Com a taxa de retoma prevista a fechar o ano nos 61 por cento, abaixo dos 65 exigidos por Bruxelas, o Electrão lança esta segunda-feira a campanha nacional "Atrasados ambientais", que pretende ser um choque de realidade para pôr o tema reciclagem na agenda e mobilizar os cidadãos para separar embalagens.
O lixo sempre nos acompanhou ao longo da evolução civilizacional, ora reaproveitado em tempos remotos como adubo na agricultura de subsistência, ora descartado na natureza mas absorvido por esta. Com a revolução industrial e a introdução química no processo evolutivo, o tipo de lixo foi-se alterando, sendo este menos absorvido pela natureza e pelo uso quotidiano.
A produção em grande escala e uma necessidade de consumo cada vez
maior, associadas à massificação e do
plástico, o fator poluição cresceu e tornou o lixo um problema social e
complexo de resolver. Apesar de durante anos os aterros sanitários, em
conjunto com a inceneração, fossem soluções para este problema, a questão
também passou a ser colocada a nível do consumo de recursos, não só
poluentes mas também eles finitos.
No sentido da mudança de comportamentos, bem como a necessidade de resolver o problema do lixo em 1985, a então Comunidade Económica Europeia (CEE) emitiu a primeira Diretiva Europeia que veio obrigar os países a gerir os seus resíduos.
A construção de aterros não se revelava suficiente para resolver esta questão e tornava-se imperativo dar uma solução adequada a todo o “lixo” considerado não degradável. Nascia assim a questão da reciclagem e reutilização inserido num sistema de economia circular. O lixo feio, porco e mau começou a ser encarado como resíduo e passível de dar origem a novas utilizações.
Com a entrada de Portugal para a Comunidade Económica Europeia (CEE) em 1986, esta diretiva é transposta para a legislação nacional em 1990. Contudo, não havia o hábito, por parte do cidadão português, de separar o lixo e a questão reciclagem era ainda um assunto muito embrionário, com as autarquias a não apostarem nesta vertente. Não havia também ecopontos suficientes que levassem os cidadãos a fazer a devida separação.
Vinte cinco anos passados e após várias campanhas de sensibilização e uma vasta rede de recolha de ecopontos a nível nacional, a questão da reciclagem está já na génese dos portugueses, mas ainda assim estamos "atrasados ambientalmente" nas metas de reciclagem estabelecidas para 2025.
Por isso, é necessário mais empenho de cada um de nós, mas também de todos os agentes envolvidos na cadeia de valor das embalagens.
A campanha cria um rótulo desconfortável — “atrasados ambientais” — para expor comportamentos errados na separação e transformar o incómodo em impulso de mudança. “A opção foi usar humor e um certo desconforto saudável para pôr o tema na mesa… É esse incómodo que queremos transformar num impulso para mudar comportamentos”, sublinha o responsável.